Você deve ter se perguntado, o que este
cara pretende com uma discussão sobre Deus ser mulher, será que ele não percebe
que Deus pode ser tanto homem como mulher?
Talvez você esteja certa(o). Se é cristã(o), pode argumentar, que nos
escritos bíblicos, em Gênesis, há a afirmação de que fomos criados, homens e
mulheres, à imagem e semelhança de Deus e que a essência dele está representada
em todos nós. Pode até acrescentar que
Deus seja uma força superior, que transcende aos gêneros. Contudo, não pode negar que tanto Deus como
Jesus são citados predominantemente como homens, Pai e Filho, em escrituras
sagradas e que quase todos os Deuses das religiões contemporâneas sejam
masculinos.
Você pode ir mais fundo e dizer que o
gênero atribuído a Deus seja mera consequência da interpretação de algumas das
pessoas que escreveram as escrituras sagradas e que por razões culturais ou por
qualquer outra, tenham escolhido considerá-lo homem. Ao menos nas religiões
cristãs isso pode ser verdade, pois há passagens na bíblia que assemelham Jesus
ao gênero feminino. No entanto, não pode
negar que a imagem de um Deus homem se entranhou em todas as culturas, nos
últimos cinco mil anos e que isso teve um impacto definitivo em nossas mentes e
almas.
Se for persistente, pode ir mais fundo
ainda e dizer que a crença em Deus não requer olhá-lo como homem ou mulher, pois
isso é apenas um rótulo. Mesmo porque, a
história revela que já houve e ainda há quem trate Deus como um ser feminino. Contudo,
há de concordar que este tema não deixa de ser controverso e de causar certos desconfortos
às igrejas cristãs. Também não pode ignorar que as representações de Deus são
geralmente masculinas e que isto produz certo efeito nas pessoas.
Não somente Deus ou Cristo, mas a própria
religião católica é culturalmente masculina.
Como mostra o relato da jornalista, historiadora e feminista italiana
Lucetta Scaraffia, de 67 anos, uma das 32 mulheres convidadas a participar em
Roma do sínodo dos bispos sobre a família, em outubro de 2015. Ela constatou bem de perto e narrou para o
Jornal francês Le Monde, a ignorância
dos bispos e padres sobre o sexo feminino, cuja presença na Igreja Católica é
apenas tolerada. A jornalista observou a elegância dos clérigos, com seus
uniformes pomposos e discursos de difícil compreensão para os que não são do
clero, cujo conteúdo em pouco ou nada fala da mulher.
Tudo bem, você dizer que este é um único
testemunho e que pouco representa uma realidade, visto que é muito mais ampla e
complexa. No entanto, você deve ter curiosidade sobre este assunto e interesse
em saber mais, não é mesmo? Bem, se foi o título deste livro que a(o) atraiu e
a(o) levou a acreditar que eu pretendesse desenvolver uma discussão apenas
sobre o gênero de Deus, sinto muito, vou decepcioná-la(o). Me permita
esclarecer, com a palavra Socorro!
desejo expressar a agonia em que me meti ao repensar as origens de Deus e em
que também pretendo envolver você. A
grande questão que procuro levantar neste livro é, se Deus poderia ser
considerado tanto homem como mulher, por que então ele se consagrou como um ser
masculino e que efeitos isso teve e tem na importância da mulher na sociedade?
Quanto à denominação Menina, ela não foi utilizada para dar um significado infantil a
Deus ou para desrespeitar qualquer das religiões ou crenças, mas uma tentativa
de emprestar ao nome deste livro uma noção de que ainda há muito a saber sobre
Deus, especialmente sob uma identidade feminina.
Acredito que uma resposta para o porquê um Deus com rótulo masculino e para os efeitos que isso teve e tem na importância da mulher, esteja no caminho de volta às nossas origens mais remotas e no retorno aos dias
de hoje. É para essa viagem que eu a(o)
convido. Há também outros propósitos com
este livro, sobretudo de ordem pessoal.
Ele é uma espécie de teste de crença.
Eu nasci cristão e pretendia chegar ao final deste livro crendo mais,
menos ou até não crendo em Deus. É claro, se vamos fazer essa viagem juntos, você
corre o mesmo risco que eu.
Talvez esteja me achando muito pernóstico por
pensar que possa influir na sua crença. É, pode até ser que você chegue ao final
deste livro acreditando que eu seja um idiota, louco ou qualquer outra coisa. No
entanto, só saberemos quando você chegar lá, não é mesmo?
Então, vamos?
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