domingo, 22 de maio de 2016

Sobre o Gênero de Deus

Para quase toda a humanidade, Deus é sinônimo de amor.  Seja cristão, mulçumano ou judeu, sua essência é amor. E a contraposição a Deus é sempre sua negação, ou seja, a ausência do amor, não importa de que demônio estejamos falando.
Se posso acreditar que a mulher é a origem do amor e que Deus é amor, devo crer que ele se origine da mulher.
Penso que a primeira elaboração de Deus partiu das mulheres, como uma estratégia de convencimento dos homens para fazer valer a primazia do amor, em favor da manutenção da sobrevivência. Partindo de uma elaboração intelectual, elas foram ensinando o amor aos homens e fazendo-os acreditar nele, acima de tudo.  Não deve ter sido difícil pois é muito mais fácil acreditar sentindo.
Talvez por isso a crença em Deus seja tão poderosa, pois ela está sedimentada no amor.  Em favor dessa crença, os humanos são capazes até de trair a sua própria determinação genética de sobrevivência e dar cabo da própria vida.
Mesmo após se tornarem inteligentes, houve um momento em que os seres humanos descobriram que eram gerados a partir da cópula.  Antes disso, viam que saiam da mulher, mas não sabiam como eram gerados.  Daí atribuir sua origem a um Deus mulher.  Quando os homens tomaram consciência do seu papel na procriação e se reconheceram como fisicamente mais fortes, trataram de substituir a mítica de um Deus mulher, alicerçado no amor e na natureza da reprodução por outra representada pela força e pela dominação. Desde então, fomos levados a nos desenvolver sob a lógica de um Deus competitivo, que tanto salva quanto pune. Mesmo assim, a gênese de Deus nunca deixou de ser o amor.
Salvo algumas pequenas sociedades matriarcais que elaboraram estruturas divinais femininas, o grosso da humanidade construiu Deuses homens.  Acho que as próprias mulheres preferiram acreditar neles, pois se elas já amavam os homens, porque não amar um Deus homem.  Já os homens, não tiveram dificuldades para amar um Deus à sua própria semelhança.
É curioso como as religiões elaboradas a partir de Moisés cuidaram para que o amor tivesse um lugar de destaque e como o transformaram em instrumento de controle social, através do estabelecimento de regras de conduta religiosas.  Elas determinaram quem deve gostar de quem e com que prioridade. Notadamente, por serem construções masculinas, relegaram a imagem feminina a um segundo plano, isolando-a em um papel secundário de procriação.
Sob o ângulo político, nenhum destaque foi dado a elas.  Por exemplo, por que os sucessores de Cristo foram todos homens?  Nos últimos cinco mil anos de civilização a nenhuma mulher coube um papel de grande destaque em qualquer religião.
Nos últimos milhares de anos os homens foram protagonistas hegemônicos na produção do modus vivendi civilizacional. As marcas masculinas estão impressas de maneira contundente na cultura, com a predominância de sociedades monogâmicas, agressivas e constituídas de signos de dominação masculinos, em que se destacam poderosos Deuses.  Mesmo assim, há um renascimento que resgata a relevância de um Deus feminino.
Segundo Chopra, a racionalidade humana, de caráter abusivamente instrumental, deixa pouco espaço para questões existenciais substantivas que possam orientar a espécie humana a agir em favor de si mesma e do local que habita.  Se nosso Deus for produto da razão, estaremos submetidos a um determinismo fatal. Por isso, precisamos de um novo caminho, um Deus mais familiarizado com a intuição.
Talvez seja para isso que a nossa intuição esteja apontando a milhares de anos, indicando que devamos nos orientar por uma Deusa, que nos ofereça o amor de seu ventre e nos permita exercitá-lo fraternalmente e com todas as tensões, retornemos ao seu ventre para reproduzi-lo.


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