Os extremos há que o amor pode levar
depende diretamente do tipo de amor há que estejamos nos referindo. Vamos considerar,
então, três tipos de amor: o materno, que dispensa maiores explicações; o
romântico, aquele que sétimos e que nos compele ao sexo; e o fraterno, que são
todos os demais que não o materno e romântico.
Se considerarmos a possibilidade de dois extremos,
teremos de um lado, o bem e de outro o mal. Assim, os amores materno, romântico
e fraterno são capazes de proporcionar situação que favoreçam ações extremas que
produzam de um lado o bem e de outro o mal.
Não dá para mencionar o bem ou o mal sem
definir minimamente o que significam.
Tomemos como bem os atos que primariamente preservam a vida de uma
pessoa e que secundariamente procuram preservar a vida de várias pessoas e até
da própria espécie humana; e como mal os atos que se contrariam frontalmente com
o bem, ou seja, que primariamente atentam contra a vida de uma pessoa e , secundariamente,
contra a vida de várias pessoas, e até da própria espécie humana.
Como já definimos o que sejam o bem e o
mal, podemos, então, avaliar as possiblidades que os tipos de amor possam provocar
em termos de atitudes extremas, sejam para o bem seja para o mal.
Sob a perspectiva primária, o amor materno
é capaz de produzir atos de extrema bondade. Uma mãe é capaz de renunciar à
própria vida em favor da vida de um filho de uma maneira tão natural e óbvia como
o ato de se alimentar. Isto me lembra uma história contada por uma amiga:
quando em visita a um zoológico, com as preocupações costumeiras de mãe, ao chegar
o espaço onde ficam os grandes felinos, estabeleceu uma regra para o marido,
que se um daqueles animais escapasse da jaula ele deveria pegar a filha pequena
e correr, enquanto ela distrairia o animal para que eles fugissem. Dá para imaginar o que possa ser a distração
de um leopardo.
Penso que o amor romântico também possa
levar à entrega da própria vida em favor de outra pessoa, no entanto, isso não costuma
ocorrer de maneira natural e óbvia. Do mesmo modo, o amor fraterno pode ser capaz
de provocar atitudes semelhantes, mas com pouquíssima frequência.
Sob a perspectiva secundária, o potencial
do amor materno para produzir atitudes extremas para o bem diminui significativamente,
isso porque ele alcança somente os filhos. O mesmo acontece com o amor romântico,
por razões óbvias. Já o amor fraterno, costuma provocar atitudes extremas para
o bem, que podem favorecer milhares de pessoas.
A história nos apresenta inúmeros mártires que entregaram seu destino e
até a própria vida para assegurar a vida de pessoas que sequer conheciam.
Quando consideramos os extremos do mal,
tanto em termos primários como secundários, observamos que a capacidade do amor
materno é muito reduzida, rarissimamente uma mãe é capaz de impingir torturas
ou provocar a morte de um filho estando cônscia dos seus atos. O mal costuma ser bem mais frequente quando consideramos
o amor romântico e muito mais frequente, ainda, quando o amor é fraterno.
Penso que o amor materno seja o mais
poderoso dos sentimentos humanos para proporcionar o bem e o mais limitado para
proporcionar o mal. Sendo assim, toda e
qualquer crença erigida por sobre o amor materno, tem muito mais chances de
produzir o bem que sobre os amores romântico e fraterno.
Assim, as nossas crenças mais profundas, aquelas que orientam a nossa lógica e por extensão os nossos atos, quando assentes
sobre o amor materno, são mais capazes de produzir o bem. Por isso, penso que as mulheres tenham muito
mais possibilidades que os homens para proporcionar o bem, ou seja, para
preservar a vida, pois a elas e somente elas possuem o amor materno. O sentem até mesmo quando não são mães.