A identidade masculina de Deus está diretamente
relacionada com a sua personificação. Não
seria necessário atribuir uma personalidade à Deus se ele fosse considerado
apenas um sentimento. Não seria razoável pensar em um sentimento sob uma
identidade masculina ou feminina, mesmo que ele estivesse mais presente em um
ou outro gênero.
Mesmo Deus sendo assemelhado ou até que se confunda com
o amor, em geral, a maior parte das religiões personificam a sua imagem à
semelhança dos homens. Penso que essa
personificação tenha sido uma estratégia para atribuir-lhe um gênero.
O processo de construção da maioria das religiões que conhecemos,
personificou Deus, deu-lhe um caráter, valores e o poder para distinguir o bem
do mal. Assim, a distinção entre o bem e
o mal ficou a cargo de um Deus personificado, que embora em essência seja amor,
não adotou somente o amor para construir os valores que edificaram essas
religiões.
Aos seres humanos, parece ser mais fácil estabelecer uma
identidade com algo à sua semelhança que com um sentimento. Do mesmo modo, um
Deus personificado pode oferecer exemplos de conduta e a força da palavra, estabelece
uma comunicação mais direta dos valores professados pela religião e os fiéis. Se
Deus fosse somente um sentimento, à religião caberia decodificá-lo em palavras,
gestos e atitudes mais difíceis de exemplificar.
A
personificação de Deus sob o gênero masculino ilustra uma possível hegemonia dos
homens no processo de construção da maioria das religiões. Se foi preciso criar um Deus semelhante aos
seres humanos para assim estabelecer uma comunicação mais direta com seus
fiéis, ele seria inevitavelmente homem.
Mesmo
que a velha discussão de o gênero de Deus não ser relevante, há de se convir
que hajam claras distinções entre valores erguidos sobre identidades femininas
e masculinas, sobretudo aqueles que se relacionam à origem dos seres humanos e
à maternidade. Vale lembrar a mãe terra,
ilustrada pela mitologia.
Fica
a questão: o que ganhamos e o que perdemos com um Deus homem?